Dá pra fazer UX Research em pequenas empresas ou em times enxutos?

Como fazer pesquisa de usuários e trazer vantagem competitiva para o meu produto mesmo em cenários limitados.

Fausto Mastrella
4 min readFeb 21, 2021

Publiquei há uns dias atrás um artigo que fala sobre UX Research (link aqui), onde eu comento quais são as entregas e a relevância que essas podem ter no sucesso de um projeto. Se você já conhece as vantagens desse trabalho de pesquisa, sabe então que cabe sim o papel do UX Researcher no desenvolvimento de qualquer produto não importa o segmento.

Uma coisa é óbvia: é muito mais fácil trabalhar fazendo User Research em grandes empresas ou em empresas que já nasceram com mentalidade de foco na experiência do produto, como as start ups da última década.

A grande questão que surge é: como fazer as pesquisas de usuário quando o time é reduzido, ou quando o time de tecnologia ou de produto (quando existe time de produto) é parte de uma estrutura muito tradicional onde não se “faz” UX. Será que é possível ter esse profissional? Será que é um perfil que consegue atuar em papéis diferentes simultaneamente?

É sabido que as demandas de pesquisa de usuário são inúmeras, devem ser constantes para o crescimento de qualquer produto, e a possibilidade de execução dessas pesquisas acontecem em maior escala nas grandes empresas. Porém precisamos lembrar que qualquer empresa só existe por que ela entrega um produto ou serviço que alguém consome.

Para mim, entendo que todas as empresas têm o direito (e dever) de conhecer e entregar o melhor possível para seus usuários e não podem fazer isso só olhando que a concorrência está fazendo. Se você olha só para o que a concorrência está fazendo para agir, você será sempre o segundo, e jamais pode dizer que está inovando.

Mas estamos carecas de saber que existem milhares de times de uma pessoa só por aí nas pequenas empresas… As "Euquipes". Nesses casos não tem jeito, é preciso negociar com os stakeholders do projeto e mostrar a eles que um tempo deve ser alocado no cronograma para essa entrega e mostrar que UX Research guiará os próximos passos.

Quando um profissional possui seu tempo destinado exclusivamente para as atividades de pesquisa, o resultado de seu trabalho com certerza será superior em aspectos de relevância e principalmente de geração de valor. É claro, essa pessoa responsável por fazer UX Research terá muito mais espaço para trabalhar em grandes times nas empresas.

Mas acredito que o trabalho de UX Research consegue ser englobado dentro das atividades de outros profissionais também. Dependendo da estrutura de cada empresa, do departamento e dos skills das pessoas que compõem a equipe pode-se então ser nomeado alguém para a função de researcher. Geralmente essa indicação é feita pelo o supervisor, tech lead, coordenador, product owner, etc., depende aí da realidade de cada lugar.

Das conversas que tive com alguns amigos e colegas da comunidade UX que participo, o que mais se vê por aí nas euquipes é o designer fazendo esse papel de researcher, até mesmo pelo background de busca, coleta e análise que as atividades do cotidiano dele já demandam.

É o que tenho visto por aí, e também praticado por aqui, pois aqui onde trabalho não temos uma área específica de UX na área de TI e nem em outros departamentos.

Eu não vejo que essa responsabilidade não possa ser abraçada pelo designer a não ser que o produto da empresa seja algo totalmente novo ou muito complexo. Se estamos falando aqui de um projeto multidisciplinar ou que envolve diferentes áreas e/ou processos, aí sim, eu vejo a necessidade de se ter um profissional exclusivo para essa função.

Para esse designer que também será o researcher, a primeira atividade que deve ser realizada deve ser a estruturação do trabalho de pesquisa dentro da agenda e rotina das demais entregas esperadas dele. Essa gestão dos compromissos e alocação do tempo pode ser ajustada e negociada com os stakeholders, PO ou líder do time, de acordo com o cenário que o designer está inserido.

Conheço poucos UX Reseachers que fazem exclusivamente pesquisa. Com a experiência que eu tenho, posso dizer que vejo essa transferência de atividades entre cargos acontecendo muito, e muito envolvendo Designers, até porque faz parte do dia a dia do designer ter esse tipo de contato, como mencionei anteriormente.

Por muitas vezes em projetos que participei, também acumulei essa função (e outras inclusive) sem muitos problemas, claro, considerando cronogramas diferentes de entrega no final das contas. O importante é se aprimorar em termos de técnica e rigor para que se possa otimizar o tempo aproveitando de técnicas mais rápidas para questões específicas de Research.

Se você está sozinho e precisa começar por alguma técnica, eu sugiro começar por testes de usabilidade e que tenha e conheça a metodologia por trás que possa justificar. É preciso ter a consciência que quando se leva o resultado de um teste de usabilidade para outras pessoas envolvidas no projeto, surgem uma série de dúvidas por conta de que é algo que não está no dia a dia dessas outras pessoas, então precisa-se de muita argumentação para apresentar esses resultados. Uma vez experimentado isso, daí aprimorar em outras técnicas.

Uma vez que se conhece outras opções além dos famosos testes de usabilidade ou da pesquisa exploratória, esse designer que está acumulando a função do researcher está pronto para se dedicar a esse novo mercado dentro da área de UX que está crescendo tanto nos últimos anos.

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